Wednesday, June 13, 2007

E-mail para o programa "Late Show"

Olá, Luisa e todos do Late Show. Bem, para começar a história que gostaria de contar já faz um tempo gostaria de parabenizá-los pelo programa e por tudo que fazem pelos animais. Sou do Rio de Janeiro, capital, moro no bairro de Vasconcelos que fica na Zona Oeste do estado e que na verdade nem é muito conhecido. Tenho 19 anos e me chamo Camila.

Acontece que na sexta-feira, dia 06 de outubro de 2006, em um dia chuvoso e frio, uma mulher que não conhecemos apareceu com uma sacola plástica nas mãos e deixou na esquina aquele embrulho que se movia sem parar na esquina próxima a minha casa, exatamente em frente ao muro da casa da minha avó, pois somos vizinhas.

Algumas crianças brincavam na rua e a viram. Depois de alguns minutos essas mesmas crianças resolveram abrir a sacola para ver o que havaria lá dentro. Sete filhotes aparentando menos de 2 meses de idade saíram. A surpresa é que eles estavam completamente tomados por sarna, pulgas e vermes. Infelizmente, naquele dia, só fui notar que havia algo errado quando um carro
passou muito rápido pela rua fazendo um grande barulho e saí para ver o que estava acontecendo. Do meu portão, notei "coisinhas" pequenas atravessando a rua e alguns garotos empurrando-as com o pé para que voltassem para a calçada.

Como sempre amei muito os animais, já criei porquinhos-da-índia, coelhos, gambás, ratos, ramisters e cães corri até lá para ver o que seriam exatamente aqueles bichinhos mesmo já reconhecendo de longe que eram cães. Perguntei a um dos garotos quem os havia deixado lá e a que horas isso aconteceu, me disseram que era uma mulher de pele negra mas que eles não
sabiam que era, e que tudo aconteceu por volta de meio dia. Perguntei quantos eram, disseram que quando abriram a sacola eram 7 mas que 1 deles já fora atropelado e morreu pois tinha se afastado dos outros.

Não sabia, mas alguém tinha deixado um pano para que os pequenos animais se esquentassem até que a famosa "carrocinha" pudesse pegá-los. Fui à casa da minha avó e peguei uma caixa de papelão onde coubessem todos. Enquanto os colocava na casa debaixo de uma chuva fria e um vento que corria sem parar aqui no bairro, minha avó apareceu no portão de sua casa dizendo que ele fora quem ligara para o controle de zoonose mas que eles não estavam mais
trabalhando aquele horário e ela teria que esperar até o sábado pela manhã para que fossem recolher os filhotes de lá. Eu disse a ela que não precisava se preocupar pois minha casa é grande e cuidar deles até que alguém apareça não seria problema, mas deixá-los na chuva, sem comida e com frio eu não seria capaz de fazer. Na hora e muitas vezes depois disso fui chamada de louca, irresponsável e as perguntas de sempre eram "o que você vai fazer com esses bichos?", "você não tem condição de cuidar deles!" e outras frases mais.

Bem, o tempo passou, na manhã seguinte ninguém apareceu para buscá-los mas eles agora haviam comido e estavam dormindo dentro da caixa com um pano que coloquei para esquentá-los pois aqui sempre acostumei todos os meus outros cães a dormir em tapetes e não no chão. Depois de comer, dormiram até o outro dia sem ao menos se moverem, estavam muito cansados. Na semana seguinte, quata-feira 11 de outubro, escrevi uma postagem no meu blog sobre eles. Minha mãe estava me ajundo a cuidar deles. Compramos ração de filhote, demos banho com sabonete de enxofre para curar a sarna por mais de 2 meses e demos remédio
de verme também. Fiz a tentativa de colocá-los com o meu casal de boxers e tudo deu muito certo de início, a fêmea cuidava deles como mãe e o macho, adulto, mas filhote dessa cadela, que sempre dormiu ao seu lado, os adotou também. Todos os dias tínhamos que dar banho, secá-los, lavar o quintal para que tudo pudesse sempre estar limpinho mas como essa cadela que eu tenho nunca se deu muito bem com outros cães adultos começou a não gostar mais do filhotes
e tive de separ-alos para evitar brigas e outras coisas assim. Infelizmente, um desses filhotes não resistiu muito tempo. Ele era o menor, o mais fraco, o mais devagar e mesmo tentando cuidar o melhor possível dele, ele morreu.

Ficaram 2 fêmeas e 3 machos e foram ficando bonitos e curados. Tentei levá-los à escola onde fui votar mas as pessoas olhavam e não queriam adotar porque os viam com o pêlo curtinho, ainda nascendo depois da sarna e os chamavam de doentes. Assim... foram ficando comigo. No início tentei não dar nomes a eles para não me apegar muito mas no final, todos eles tinham de ser identificados de alguma forma.

Meu irmão, voltando da escola, viu um outro cachorrinho abandonado na pracinha em frente a minha casa, um pouco mais novo que esses primeiros mas eu disse "se tenho outros e posso cuidar deles, por que não mais um?". Ficamos com esse também. Na manhã da véspera de natal minha mãe foi à venda com o meu irmão mas quando voltei da faculdade no dia anterior disse a ela que mais alguém deixou 2 filhotes tigrados na mesma esquina e que eu estava ficando com
raiva dessas pessoas que estavam achando e a minha casa tinha cara de abrigo. Fiz meu coração duro e não fui pegá-lo. Minha mãe, porém, passando por lá viu somente 1 e perguntou se poderíamos ficar com ele também, concordei e o pegamos. A família estava grande agora.

Já havíamos decidido que cuidaríamos deles e depois os levaríamos para o controle de zoonose para que pudessem ser adotados mais rapidamente pois não queria vê-los abandonados outra vez ou sofrendo maus tratos. Os levamos para lá como o combinado mas no mesmo dia fiz a minha mãe ligar para lá dizendo que não era para eles serem adotados pois os buscaria novamente. Assim foi feito. Me senti bem melhor depois de uma noite sem dormir e de chorar muito. Agora eles estavam comigo de novo.

Após terem tido contato com outros cães, muitos doentes, e eles por ainda não estarem vacinados, contraíram parvovirose e cinomose. Todos sofreram muito mas cuidamos deles com as vacinas e cuidando de doenças que na verdade deveriam ter tratamento sintomáticos. Perdi 3 deles pois a cinomose já havia entrado em um estágio muito avançado. Uma das fêmeas, a Amarelinha, o Pretinho e o Alemão, o penúltimo que eu havia tirado das ruas. Graças a Deus meus boxers continuaram bem a 4 deles ainda haviam ficado comigo, a Branquinha, o
Gordo, o Hiena e o Guguinha o que era o caçulinha da turma.

Ficamos algum tempo somente com eles e todo esse sofrimento de doenças acabou. Mas... minha mãe por estar estagiando em um hospital no centro de Campo Grande (um bairro próximo daqui) me disse que havia uma cadelinha amarelinha como a minha que morreu. E outro cachorrinho havia sido deixado 3 dias atrás em um esquina perto da minha casa por onde eu passava todos os dias para ir ao ponto de ônibus e o via sem comida mas sabia que seria difícil e nem seria possível ficar resgatando todos os pobres cães que via na rua. Mas, quando soube dessa outra cadelinha, não sei o que aconteceu mas voltando da faculdade em uma quarta-feira, peguei esse cachorrinho da esquina e meu irmão o nomeou Cookie pois falava que ele tinha "cara de biscoito".

E, no outro dia, a minha mãe estava de plantão no hospital, peguei um ônibus que passasse direto da faculdade ao hospital. De lá, uma senhora que também trabalhava no hospital disse "ah, leva ela, se for preciso eu ajudo a comprar comida para ela se esse for o caso. Só não posso levá-la para minha casa pois o espaço é pequeno e já tenho cachorros. É uma pena quando pessoas que não têm coração abandonam bichinhos tão bonzinhos por aí..." eu disse que
a ração não seria problema e enquanto pensávamos em como eu iria voltar com ela para a minha casa ela foi atrás de umas moças que lanchavam por ali e uma delas a chamou por Kika. Perguntei se ela já atendia por esse nome e elas disseram que sim. Peguei a Kika no colo e saímos do hospital. Minha mãe e senhora que estava com ela, Sônia, fiseram sinal para uma van que passava e disseram "ela pode ir com o cachorro? Ela vai soltar em Vasconcelos, o carro
enguiçou quando voltávamos do veterinário." O motorista permitiu e cheguei em casa.

Ela passou pelo mesmo ritual que todos os outros quando chegaram aqui, banho, cuidados, verifiquei se tinha carrapatos e pulgas, e aproveitando o sol que fazia, todos tomaram banho. Que bom que todos estavam bem. Um tempo depois, os mais antigos já tinham tomado a terceira dose da vacina e Kika e Cookie estavam na segunda dose, muitos ratos estavam aparecendo pelo terreno da minha e só o que faltava... pegaram leptospirose. Cuidamos e graças a Deus todos ficaram doentes mas estão muito bem hoje.

Esses pequeninos já sofreram bastante, mas não os troco por nada, até porque depois disso tudo um cãozinho preto passou a me seguir e me "cumprimentar" todas as manhãs quando ia estudar. Ele também vinham brincar com os meninos da vizinhaça. Todos o adoravam mas quando ele descobriu onde eu morava vinha exatamente às 10 da manhã e às 6 da noite me pedir comida, que eu passei a dar a ele quando o via na rua.

Um dia choveu muito e ele ficou no meu portão latindo sem parar. Coloquei uma caixa de papelão para ele dormir em frente ao meu portão. Não deu certo, ele saiu da caixa e continuou me "chamando". Bem, resolvi colocá-lo para dentro a partir desse dia para que ele pudesse dormir bem à noite e para que pudesse comer também. Que bom, todos se aceitaram muito bem. Acho que eles já estão acostumados com uma movimentação muito grande de "novos convidados" e por isso não brigam. O nome desse, acabou sendo Pretinho também. Pela cor e
porque todos o chamavam assim e ele atendia. De vez enquando, o deixo na rua por alguns minutos enquanto limpo o quintal. Ele faz as necessidades dele na graminha, anda um pouco, e quando se cansa da rua late e bate no portão com as patinhas para que eu o coloque para dentro novamente.

Bem, essa é história dos meus "filhinhos" como os chamo. Tenho um blog onde conto toda essa história de maneira cronológica e tenho fotos deles também com os nomes. O site do meu blog é: http://aluadacbs.blogspot.com e a partir dos arquivos do ano de 2006 no canto direto da página principal poderam ver como eles eram assim que chegaram na minha casa, com o passar do tempo como eles foram melhorando, os que se foram e os que ficaram, os novos que chegaram, e como a turminha está hoje. Infelizmente não tenho mais como adotar mais nenhum pois o gasto é grande mas dou um grande apoio ao programa por tentar fazer com a realidade de maus tratos a todo e qualquer tipo de animal mude.

Parabéns a você, Luisa, e a todos do programa Late Show e a toda a Rede TV por esse trabalho. Sempre que posso assito o programa e espero que um dia também possa ajudar a mudar esse mundo ruim em que vivemos mas que de vez enquando conseguimos encontrar pessoas boas que estão dispostas a ajudar e fazer o bem.

Um grande abraço. Fico aberta a qualquer contato.
Camila Bernardes
http://aluadacbs.blogspot.com

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